A Busca de Desaparecidos em Portugal

Sobre a Busca de Pessoas Desaparecidas em Portugal… há tanto a dizer que fica difícil resumir a um post, mas vou fazer por tentar…

Sobre a minha jornada pelas Buscas de Portugal… Ora em 2019, em ocasião de desaparecimento de um familiar de um amigo, participei nas buscas pelo mesmo. Ora um Sr. Idoso, surdo mudo, e com sintomas de possível demência. Foi denunciado como desaparecido no OPC da sua área de residência ao inicio de uma noite chuvosa. Escusado será dizer que nada fizeram. Os Bombeiros foram fazer buscas por conta próprio pois por acaso esse senhor tem um familiar Bombeiro. Por acaso esse familiar é meu amigo e membro da SAR Team, como tal lá fui fazer o que podia, julgando que tudo iria estar organizado e alguém coordenava as operações, só que não. Procuramos até cerca das 04h da manhã, nada.

Manhã seguinte, OPC’s nada. Os mesmos da noite anterior foram fazer algumas perguntas pelo comércio da localidade e serviços de transporte, lá descobriram alguma coisa, e mudaram ligeiramente o local das buscas. Ora fim do dia e aparece uma viatura de um OPC diferente do primeiro que pergunta o que se passava ali. Foi informado e com espanto retribui que de nada sabia sobre o assunto e iria pedir para que meios fossem enviados para aquele local. Tal só seria possível na manhã seguinte.

Manhã seguinte com mais meios no local, pensamos nós que iria estar tudo coordenado, seria desta… Mas não, esses meios andaram por ali aquela manhã e foram embora bastante depressa.

Infelizmente esse Sr. não apareceu naquela altura, mas os seus restos mortais foram descobertos há uns meses, não muito longe de onde nós, meros iniciantes teríamos estado, e sem conhecimento fomos deixados a coordenar uma operação de buscas.

Nada disto me pareceu normal e comecei a estudar o assunto, hoje, cerca de 4 anos depois com mais umas centenas de páginas de estudos, métodos, protocolos, e manuais sobre o assunto, tenho a dizer que a Busca de Desaparecidos em Portugal é uma anedota. É triste, mas é a verdade, o Estado é omisso na resposta a estas situações.

Sim, as pessoas têm direito a desaparecer por vontade própria, concordo. Mas porque raio devemos, primeiro, ter em conta que desaparecem por vontade própria? Que sentido é que faz alguém mudar a sua rotina, abandonar tudo, deixar tudo para trás de um momento para o outro, sem dar qualquer sinal disso? Em Portugal acham esta opção mais aceitável do que o facto de a pessoa estar realmente a precisar de ajuda. O desaparecimento pode ocorrer por vários motivos e até pode ser voluntário de facto, mas esses, são uma minoria e toda a gente sabe disso, mas é mais fácil dar essa desculpa quando não se sabe o que fazer. Mas a informação, conhecimento e formação está disponível, é preciso procurar e interessar.

Sobre o aspeto prático da gestão e coordenação de buscas, vou deixar alguns conceitos básicos, em inglês, para ser mais fácil procurarem sobre o assunto, lamento mas em português não vão encontrar nada.

Quando a pessoa que recebe denúncia de desaparecimento, nada sabe sobre o conceito de Last Known Position ou Place Last Seen. Não sabe a diferença entre ambos, não sabe o que descobrir para definir o Initial Planning Point, não tem disponível um formulário para definir a Urgência da Busca, segundo critérios muito bem definidos internacionalmente. Quando essa pessoa não dispõe de um Questionário pré-definido para ser feito a quem denúncia o desaparecimento e todos as pessoas próximas, algo que possa justificar aquele comportamento, esse mesmo questionário importantíssimo para definir o perfil do desaparecido. Sobre o perfil do desaparecido, para que é isso importante? Para não tomarmos decisões com base em intuição e sim com base em estatística. Reparem, este é o mais básico, uma pessoa desaparece em determinado local há 1 hora, qual será melhor, ir a correr atrás dessa pessoa ou estabelecer um perímetro numa distância teórica que ele poderia ter percorrido nesse tempo? Já sei, estabelecer um perímetro em todas as direções é praticamente impossível certo? Pois, por isso existem recursos e formas para se priorizar uma Direction of Travel… até porque, se tiverem de correr atrás do desaparecido, também terão de correr em todas as direções.

Mas bem, por hoje chega, muito haveria a dizer sobre este assunto, muito há a evoluir e a desenvolver sobre as buscas em Portugal. Para aqueles que acham que isto foi uma critica aos OPC’s, não foi, a culpa não é deles, é de quem não fornece as ferramentas para eles trabalharem, porque por vontade própria nada podem fazer.

Sobre desparecidos, se precisarem, a SAR Team está por cá para ajudar, disponíveis para fazer parte da solução e melhorar a resposta para que de uma forma ou outra as pessoas tenham uma resposta.

Voltaremos a falar sobre o assunto certamente, pensem nisso…